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a bicicleta

Atualizado: 25 de nov. de 2018

"Meu tempo que era incontável passou a ser medido a partir daí: Quando eu pensava na minha bicicleta. Ganhei. Ganhei minha tão desejada bicicleta, a minha primeira bicicleta. Sentia-me sem fome, sem sono, eufórica. Ali nomeei de felicidade".


Era dia das crianças ou meu aniversário, a esse detalhe não me ative por certo. Só sei que, aos meus cinco anos de idade sonhava ter uma bicicleta. Sim, aquela que via na TV, nos comerciais. Tão grandiosa! Com garupa e rodinhas. Em cores azul, vermelho e amarelo, passava horas imaginando como seria andar em uma, como seria ter uma.

Meu tempo que era incontável passou a ser medido a partir daí: Quando eu pensava na minha bicicleta. Ganhei. Ganhei minha tão desejada bicicleta, a minha primeira bicicleta. Sentia-me sem fome, sem sono, eufórica. Ali nomeei de felicidade.

Pedalava então pelas calçadas e ruas.

Pedalava no quintal de casa. Pedalava dentro de casa.

Meses depois ,meu pai dissera que era hora de tirar as rodinhas da minha bicicleta. Lembro-me bem: ele com uma enferrujada chave de fenda, sentado no meio-fio da calçada, desenroscando as rodinhas da minha bicicleta vermelha, amarela e azul, não entendia muito bem, mas sentia orgulho naquela situação. Era hora de me lançar, sem rodinhas. Com a minha amiga e companheira, bicicleta.

Aí, aquela bicicleta, tão amiga e companheira de outrora, me pareceu estranha, uma desconhecida que não permitia me aproximar dela. Temia por isso, talvez meu pai tenha pensado que era medo de cair. Não era.

Tira os pés do chão e olha pra frente! Para meu pai parecia tão simples, e eu enfim, fiz o que me pediu: Tirei meus pezinhos do chão e me lancei.

Caímos eu, e minha bicicleta. Temi por ela arranhada e nem notei meus joelhos e cotovelos sangrado e ralado. Chorei por mim, chorei por ela.

Meu pai veio ao meu encontro. Pega com sua mão direita a minha mão, na outra arrasta a bicicleta. Seguimos os três para casa.

Semanas depois, meu pai havia me deixado. Minha mãe dizia que foi morar no céu. Eu achava estranho ele ir morar no céu sem mim.

Logo depois nos mudamos, só minha mãe e eu.

Sem minha bicicleta que era azul, vermelha e amarela, com garupa.

Foi ali que pude mensurar o que era perda: Minha bicicleta foi vendida e eu sequer consegui aprender andar sem rodinhas...

Sem meu pai.

 
 
 

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