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blusinha G

"Trago minha respiração. A blusa G, já não importa. Quero compreender o diálogo, cada vez mais baixo".

Provando uma blusa em uma grande rede de loja popular. Peguei tamanho M, estava ali dentro do provador, pensando que a G ficaria com um caimento melhor, pego um outro modelo, provo, experimento e fico ali na filosofia de provador com um mix de BBB, pensando qual delas devo eliminar. Provo mais uma vez a blusinha M, aquela do início, decido q gostei dessa mesmo, porém preciso do número maior. Então, falo do provador: -"Moça, você poderia pegar a G dessa, por favor"? Ela estava em silêncio , dobrando roupas e não repara no pedido. Na sequência ela diz: -Não quero sair daqui agora. Pensei de pronto que era mal atendimento, mas não quis me indispor com essa questão. Visto minha roupa e separo a blusa que aspiro adquirir, no tamanho G. Não vejo a moça, deixo o que havia provado e sigo na busca da minha "brusinha". Retorno ao provador, (feliz por achar o tamanho que queria) na sequência ouço uma conversa entre duas moças. Silêncio. Uma delas sai. Um choro engolido. Paro de fechar o botão da blusinha. Atento-me em silêncio. Uma moça retorna e diz em voz baixa: Quem faria isso por querer, não fica assim. Acho que não sentem minha presença no provador. Trago minha respiração. A blusa G, já não importa. Quero compreender o diálogo, cada vez mais baixo. Se pudesse, pedia as contas. Não posso. Um soluço em silêncio. Não se culpe, você trocou o preço da etiqueta, acontece. Despedem-se. Silêncio de novo. Solto a respiração tb. Engulo a saliva acumulada na boca por prender a respiração por instantes. Visto minha roupa. Abro a cortina. A moça está sentada e fica muito assustada pensando no que eu teria ouvido. Levanta num ímpeto. Não lembra que sou a pessoa que pedira um modelo G pra provar. "Ficou boa"? "Vai levar, senhora"? Não me encara, mas seus olhos verdes estão borrados por lágrimas caídas. Eu também não sabia como reagir. Dizer que ouvi? Não dizer? Pensando rápido, disse: Sim, ficou boa. Vou levar. Saí do provador. Dei três passos e pensei: Que droga! Olhei no geral aquela loja e minha preocupação com o número G da" brusinha". Voltei ao provador. A moça encabidava as roupas. Disse-lhe: -" Moça, não sei o que aconteceu, mas vai ficar tudo bem, tá"? A moça deu um pequeno sorriso de canto, naquele rosto avermelhado . Também sorri levemente p ela. Fila grande para pagar. Deixei a blusinha G . Atravesso a rua, tomo um café expresso puro , amargo, pequeno, com açúcar , como a vida.

 
 
 

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