No tempo das copas
- Daniela Tenorio
- 13 de jul. de 2018
- 2 min de leitura
"Que lógica do tempo a gente tem? De quais copas passei a me lembrar e o que estava fazendo naquele momento. Cada espaçamento de 4 anos , dos ganhos, das perdas, das alegrias e das frustrações".
Restaurante semi-lotado, não dá para escolher mesas de canto pra sentar. Gosto de mesas de canto, pois a visão que me dá das pessoas e do espaço são sempre muito boas. Boas em quê? Não sei, gosto de observar o transitar das pessoas, o ir e vir. Aquele que come rápido, o que come em grupos com muita risada , em família, em silêncio, o que come e mexe no celular ao mesmo tempo , a correria entre garçons e as cocas com ou sem gelo ou limão. Bom, hoje não foi possível pensar nessa logística de onde sentar, pego meu prato branco e brilhoso e deslizo um belo pedaço de lasanha à bolonhesa com a desculpa de que hoje está frio e massas sempre combinam com frio, né? Inventar desculpas para satisfazer vontades sempre me agradaram. Não é por mal, mas sempre disseram que é bom evitar calorias. Eu evito, juro. E me desculpo, confesso. Mas o entorno dessa temática é, na verdade , o ensejo para esmiuçar as coisas que acontecem quando me sento nas mesas de canto. Como dissera, estava semi-lotado e as mesas de canto não estavam disponíveis... Será que os outros também seguem a mesma ideia? Ou é para evitar que alguém esbarre ou circule menos à sua volta? Vixe, olha só! E nem sentei na mesa de canto! Mas, tudo bem. Minha lasanha à bolonhesa transitava também pelo prato branco e brilhoso nesse dia de frio, que o corpo pede massas. Uma garfada , queijo esticado voltando ora pro garfo, ora pra boca. Olho pra TV e canais de esporte que falam da copa, mais uma garfada, um gole de água ,sem gelo. Um pai e uma criança almoçam logo ao meu lado. Comem batata frita, carne com arroz e legumes. Estão em silêncio e a criança, na mesma direção que eu, também olha pra TV ligada no canal de esporte que fala sobre a copa. Ouço a criança seriamente perguntar pro seu pai: “ Pai, quando você era criança também tinha a copa”? O pai, mastigando balança a cabeça afirmando que sim. O menino volta seu olhar pra TV e pega a batatinha com a mão aparentando está muito satisfeito com a resposta afirmativa de seu pai. O garotinho me ajudou a pensar nisso: O tempo. Que lógica do tempo a gente tem? De quais copas passei a me lembrar e o que estava fazendo naquele momento. Cada espaçamento de 4 anos , dos ganhos, das perdas, das alegrias e das frustrações. Meu prato já não havia lasanha deslizando , o pai e o garotinho ainda estão frente a frente, comendo. O garoto com os olhos fitos na TV, nos detalhes da copa e, mastigando sua batatinha frita. E eu, saio dali com um flash back de copas na minha cabeça. Não me pergunte quem ganhou, nem quem perdeu. A copa também foi minha.
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