top of page
Buscar

o filho do meio


Eu já fui o filho caçula. Filho caçula por um curto período da minha vida. Logo depois vinha nascer o caçula. Joaquim o nome dele.

Ouvia a mãe dizer que não foi planejado. Nem eu. Nasci “desplanejado” na família e meu posto de caçula foi tirado prontamente.

Pois é, mamãe tinha a mim, bebê de apenas 2 anos que era. Tinha meu irmão mais velho, meu mano que ajudava a cuidar de mim com seus 8 anos a mais que eu.

Sem bem entender, mamãe já não me punha no colo. Via o Joaquim envolto no colo da mamãe totalmente ocupado, totalmente egoísta.

O pai trabalhava à noite, consertando buraco na rua. A mamãe, além de cuidar da gente, trabalhava em casa, consertando roupa.

Notei que mamãe me dava atenção quando ficava doente.

Era tão bom ficar doente...

Mãozinha na testa pra ver se febre baixava, puxava minha cobertinha para me cobrir do frio e dava sopinha quente de legumes na minha boca.

O mano mais velho dava uma olhadinha no Joaquim, enquanto mamãe cuidava da minha enfermidade.

Ouvia a mãe contar pro pai que eu tinha saúde frágil: ora febre, ora narizinho escorrendo, garganta doendo e olhinhos avermelhados. O pai achava que filho do meio era de se nascer assim, meio “adoentado”, dizia ele para confortar minha mãe.

Logo passava minha enfermidade e mamãe ia se ocupar a remendar roupa da vizinhaça e a balançar o bebê Joaquim.

Eu não sabia ficar doente toda vez que precisava do olhar da minha mãe .

Comecei então a cair: Corria muito rápido pelo quintal, assim conseguia um arranhãozinho no joelho e, chorando pela queda e pelo mertiolate ardendo, a mamãe me olhava com tanta ternura, que logo pensava como seria meu próximo machucado.

Assim fui crescendo.

Uma criança de machucados. Uma criança cheia de marcas.

O filho do meio.

Nem o mais velho, nem o mais novo.

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comentários


Faça parte da nossa lista de emails

Nunca perca uma atualização

© 2023 por Armário Confidencial. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page