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O MOFO

Janela semi-aberta e os ruídos lá de fora inundam meu quarto. Os gritos dos vizinhos, as motos empinadas, as crianças brincando, os gatos ronronando, o som do bar com música ao vivo, fiéis orando.


Eu, trancafiada nesse cômodo, abro totalmente a janela e acendo um cigarro, trago vagarosamente fechando meus olhos, no êxtase das divagações, olhando quem vai e quem vem pela rua.


Findo meu cigarro e deito-me na cama olhando para esse teto mofado, sem piscar os olhos, estática. Costumo fazer isso toda noite, sei de cada mofo que foi surgindo, cada mancha e seu contorno, o cheiro me incomodava a princípio, mas agora, nem tanto.


Gosto de ver essa mancha se propagando vagarosamente pelo teto, esse mofo, esse quarto, eu nele, ele em mim. Acinzentados na cor que é, quase cinza, que nunca se chega, cor que não se almeja, contenta-se em ser assim, “acinzentado”, sem cobrança na cor que se é, na cor que se nega e se colore por cima, mas não se aguenta e se descasca e volta a ser de novo, o mesmo feio e rejeitado, mofo de antes.

 
 
 

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