Uma garrafa, vários nada

Eu sempre gostei da expressão “ Pensar vários nada”, pra mim é nesse tempo que tenho pra pensar nos vários nada que debruço nas minhas divagações, sinto um pouco por essa expressão: Esses intitulados “nada”, nos dá uma ideia de insignificância de você mesmo, de não nos permitir espaço para pensar em si.

É, a demanda externa te engole, camarada.

Mas, como disse, me permito pensar em vários nada.

Numa lanchonete-bar-padaria tudo no mesmo lugar, estou eu no contrafluxo da grande cidade e sento semanalmente à tarde: ora café com um docinho no pires, ora uma água de coco, ora uma gelada garrafa de cerveja.

Nas últimas 4 semanas tenho sentado no mesmo local à tarde, para desfrutar desse meu pequeno prazer.

Noto também que sempre entra uma senhora de bengala, estilo bonachona que sempre vai ao banheiro e no retorno sai pedindo esmola nas mesas. Confesso que não cedo a essa caridade naquele momento.

Nessa última semana que estive nesse bar-padaria-lanchonete, peço ao garçom uma garrafa de cerveja. O garçom me serve o primeiro copo, logo degusto o meu primeiro gole gelado dessa cerveja.

Não é apenas uma cerveja. É uma cerveja no meio da semana, no contrafluxo, para pensar vários nada. Desfruto ali do meu valoroso momento de prazer.

A senhora bonachona de bengala chega até minha mesa. Para e me fita por instantes com um olhar de comiseração enquanto dou vagarosos goles de cerveja e me diz:

- Moça, fica assim não, vai passar... Ele não te merece.

A senhora bonachona não me pediu esmola . O meu olhar de resignação para ela virou-se contra mim.

Pensei em explanar um discurso que aprendi sobre feminismo. Ainda com o copo na boca, balancei a cabeça pra ela e concordei. Achei melhor não dizer nada.

Era a única coisa a que se orgulhar: A experiência.

Deixei-a reinar no ápice da suas palavras.

No fundo, concordei com a senhora bonachona...

Enchi de novo o copo e brindei em pensamento.

A garrafa gelada de cerveja estava isenta de qualquer sentimento.